Vamos dar nome as coisas: você está passando por um processo de luto.

Muito se fala do luto pela morte de alguém mas pouco se fala dos chamados “lutos não-reconhecidos” perpetuando assim seu lugar de não reconhecimento!

A gente se enluta pelas nossas perdas do caminho. E você que está me lendo agora provavelmente está enlutada por ter perdido a chance de exercer uma maternidade que você esperava viver. Por ter perdido a chance de viver o gerar um filho e a maternidade.

Lutos são processos difíceis, cheios de emoções diversas, como tristeza, raiva, apatia ou saudade – inclusive do que poderia/deveria ter sido e não foi. Tem momentos que dá inveja de quem tem o que perdemos. Tem momentos que dá angústia por não entender as razões de não termos. Tem momentos de se deparar com a impotência de não poder fazer mais nada sobre o tema, do não-controle sobre os aspectos biológicos e genéticos do nosso corpo, de sua aderência limitada ou não aderência aos procedimentos. Existe a tristeza da frustração, a raiva diante dos fatos, a falta de perspectiva para seguir em frente e invasão dos pensamentos sobre como era para tudo ter sido. E no meio de tudo isso existem momentos da vida que ficamos alegres, que nos apaixonamos, que progredimos no trabalho, que rimos com nossos amigos, que fazemos uma boa viagem ou comemos uma boa comida… Existe dor, mas também existe prazer. Existe ausência mas também existe vida, a nossa vida.

Não, você não está enlouquecendo. Não, você não está oscilando de humor. Você está vivendo um processo que tem nome: luto. E que se orienta como um pêndulo – horas muito conectado com os sentimentos da perda e horas muito conectado com o sentimento da vida que prossegue, horas conectada com o fato de ser uma árvore que não deu frutos mas também horas conectada com a beleza de ser uma árvore que ainda assim dá flor.

Luto é um processo, cheio de dias, uns mais fáceis, outros mais difíceis, uns com mais sentido e outros que parecem absolutamente sem perspectiva. Ele não passa de uma hora pra outra ou como um passe de mágica. De fato, vamos ter que viver as nossas mortes, reais ou simbólicas. De fato, é possível que vejamos nossas folhas caírem, nossos galhos balançarem ao vento da tempestade e choremos em cima de nossas raízes – mas também é possível que com essa mesma água e essa renovação possamos dar flor. Dar flor é perceber que ainda somos capazes de beleza, que ainda há perfume, que ainda se aproximam os pássaros atrás do pólen. Dar flor são os dias que ainda são bons, que ainda nos abraçam, que há quem cuide e escute nossa dor.

Adélia Prado diz em um poema: “Deus de vez em quando me tira a poesia, olho para a pedra e só vejo pedra mesmo”. Para esses dias de só ver mesmo pedra e para os de dar flor, estamos aqui como um espaço para você falar dessa dor que sente, dessa perda que você viveu e que tem nome: o seu luto. “Lutemos” juntas com ele.

Texto: Psicóloga – Juliana Correia – @psi.julianacorreia

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