Desafios cotidianos – os outros, as situações, o dia-a-dia

“Nós somos, em nosso mundo real e cotidiano, muitas vezes semelhantes as máscaras da Comédia e da Tragédia, rindo por fora, uma careta de dor por dentro.” Stephen King

De repente um convite inesperado, uma pergunta indiscreta e uma notícia de alguém próximo nos faz repensar o quão difícil é lidar com o cotidiano. Desafio diário de quem se encontra com o diagnóstico de infertilidade, onde o simples se torna em algo temido. Conversar sobre a gestação de alguém, ir a um chá de bebê, ser questionada se tem filhos ou quando pretende tê-los, gera um misto de sensações que passam do constrangimento a raiva, e oscila entre a alegria e a tristeza e porque não dizer uma certa “inveja” de não ser você.

Como estar, se quando o que você quer é fugir dos encontros, das perguntas das quais não se quer responder. O que pode gerar muitas vezes um isolamento social, um afastamento de todas as pessoas, inclusive de sua família, pois não se sente compreendida e respeitada em sua dor, em seu luto; e esse não reconhecimento se manifesta em solidão, o que a deixa mais vulnerável a qualquer possibilidade de troca e pode fazer com que, com isso, se perca amizades, eventos e celebrações que a vida tem a oferecer.

O luto na infertilidade é negado por todos, e principalmente por quem o vive, num esforço intrapsíquico para não reconhecer abertamente seu sofrimento, envolve perdas múltiplas que vão desde a perda de um grande sonho que reforça sua identidade, à perda da possibilidade de perpetuação da própria existência.

E o que fazer? Como cuidar dessa situação?

Não existe uma solução mágica!

A palavra é reconhecer. Reconhecer a dor que devasta por dentro e inibi todas as ações externas que podemos expressar tornando-as, muitas vezes, mecânicas/automáticas numa fantasia de que assim possam ser amenizadas ou não sentidas.

Reconhecer seu luto como algo a ser vivido e não escondido e sufocado dentro de si. Validar seu sofrimento, sua própria dor. O reconhecimento faz com que consigamos nos olhar com maior compaixão e nos permite a sentir. Quando não se lida com sua dor e tenta encontrar seu lugar no mundo, sair da cama todas as manhãs e encarar o dia pode parecer um desafio monumental, tudo se tornar uma ameaça.

Para que exista uma mudança no todo é preciso começar onde é o ponto de partida, onde respeita-se a própria dificuldade, tudo nem sempre será mil maravilhas, mas terá maior tranquilidade e qualidade nas relações existentes ou que possam vir a existir. Conseguirá encontrar soluções mais certas daquilo que realmente deseja, como saber o momento que deve manter o distanciamento de tudo e quando poderá se aventurar a participar dos eventos e encontros sem um sofrimento tão grande.

Texto: Psicóloga Eliane Souza F. Silva – @elianesouza.psi

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