Sobre o Luto não reconhecido

Quando a infertilidade encerra o projeto da maternidade, ocorre o rompimento de todo um grande sonho e afetos colocados nos filhos desejados.

A perda da fertilidade e da criança que não será concebida não é um evento socialmente reconhecido. A inexistência de rituais que legitimem essa dor transforma a infertilidade em um luto silencioso, solitário e não reconhecido.

Doka (1989) traz o conceito de que luto não-reconhecido parte do princípio de que qualquer sociedade tem um conjunto de normas ou ainda “regras de luto” que estão a serviço de especificar quem, quando, onde, como, por quanto tempo e por quem devemos expressar sentimentos de luto ou pesar.

Conforme o autor citado, isto pode acontecer em nossa sociedade quando: o relacionamento não é reconhecido porque a relação não é baseada em laços afetivos (na infertilidade a perda ocorre antes mesmo da criança ser concebida); a perda não é reconhecida, ou seja, socialmente a perda não é considerada significativa quando não ocorreu a existência física do objeto da perda; o enlutado não é reconhecido ou definido socialmente como capaz de enlutar-se pelo pouco ou nenhum reconhecimento do seu senso de perda ou da necessidade de enlutamento; a morte não é reconhecida quando representa uma das situações rechaçadas pela sociedade que resiste enquadrar nas regras do luto e, o modo de enlutar-se e o estilo de expressão do pesar não são validados socialmente.